O Limite da Piada

No início era uma foto no Facebook de alguém da minha timeline:

As reações podem ser várias, sempre de acordo com a sua educação, experiência, vivência, valores, humor e sensibilidade. A princípio, uma imagem de puro carinho, a felicidade de dois pais com seus filhos - mesmo que tantos - provoca doces reações de na página desse meu contato.

Mas... nem todos são iguais

Diante de uma situação dessas, as pessoas (inclusive eu) costumam se calar, fingir que não ouviram, dão um sorriso amarelo, fingem que nada aconteceu...outras podem achar o MÁXIMO, inclusive completar a piada - se realmente for só uma inocente piada - como o covarde alí que só esperou o primeiro sinal de largada e entrou na onda!

Pensei, pensei, e aquilo me incomodou. O Facebok é invasivo de certa forma, a gente recebe

coisas de pessoas que nem conhecemos, podem ser boas ou ruins, e não existe um filtro né? Posso controlar as minhas amizades diretas, mas não as dos outros.

Mesmo não conhecendo decidi respondê-los, sem grandes discursos, com uma boa ironia, que para um bom entendedor, meia palavra basta.

Em seguida, como vocês puderam ver, recebi as resposta da dona da página, que logo apagou e me pediu desculpas, certamente envergonhada pelos comentários dos seus "amigos".

Mas além de uma piadinha cretina, as pessoas realmente se acham no direito, se defendem do direito de falar abobrinhas por aí e ainda te acusam, virando o jogo, se ofendendo e quase virando vítima. Em país de Bolsonaro quem ganha causa é o réu....

O link que foi mandado pelo amigo alí em cima, super preocupado com a nossa formação e informação, dá pra esse blog aqui.

Fala da Política Assistencialista de Lula, só o título pra mim já diz que não tem nada a ver com a discussão, política nenhuma dá o direito dele, nem de ninguém ver uma foto de uma casal de negros com seus filhos e dizer que eles são pobre (beneficiados pelo Programa Bolsa Família) ou bandidos....seja por brincadeira ou não. E diante desse discursinho e uma explicação sem pé nem cabeça, como sou um "recentido social" decidi ser um pouco mais claro...

Ela claramente tentou abafar, por um ponto final, podia ter parado aí....mas depois de uma piada escrota ele achou que eu tinha que tentar "raciocinar um pouco melhor"...

Eu imagino o preconceito que ele deve sofrer por ser descendente de índio.

A Jéssica, casada com um negro, amante de todas as culturas e sem preconceitos, é do tipo de pessoa que fala alto, vai num cafézinho chique depois do almoço e curte um raps paulistanos no fimd e semana, é do tipo que não tem paciência pra coisa ridícula e pequena, falou o que pensava também apelando pro guetho style, orgulho e união que realmente fez uma puta diferença nos EUA.... mas o amigão era o tipo de pessoa que fala bosta e depois quer se mostrar culto. Faz piada chamando a mãe de pequenos bebês negros de "formadora de quadrilha" e depois vem explicar pra gente o que é ser "contundente".

Clap, clap, clap....

Pra eles acho que já disse o que penso, mesmo sem me perguntarem, me intrometi numa piada entre amigos, mas como chegou a mim não quis me calar, fui sim o chato. Ele(s) podia(m) falar assim na casa dele(s)... cada um tem o direito de pensar e dizer o que quiser contanto que não afetem a vida das pessoas e a da sociedade em que nós vivemos.

Temos o direito de expressão mas esse direito vai até onde?

Se eu vejo uma plantinha de preconceito todo dia sendo plantada por aí entre piadas, olhares e "preferências"?

Acontece que vivo em uma realidade onde ninguém é racista, jamais, e se justificam logo buscando aquele amigo preto que ele tem no futebol ou aquela tia de consideração carinhosa, vai buscar algum tatatatatataravô negro e até a D. Maria que limpa a casa, acha uma fofa, adoro ela, como posso ser racista? Se os senhores de Engenho estivessem vivos também logo se defenderiam - magina, adoro as negras como todas as minhas escravas, como posso ser racista?

Racista não é só aquele cara que anda armado louco pra matar pessoas de outras etnias, não é só o encapuzado da KKK, nem skinheads ou neo-nazistas, não são só os cachorros loucos que passam os dias à humilhar as pessoas e gritar por aí que são a favor da escravidão.

A sociedade sabe muito bem diferenciar e sabe muito bem classificar ou desclassificar as pessoas a partir de um elemento tão pequeno, este da pigmentação da pele e de traços físicos, nariz, cabelos e bocas.

Dizer que sou preconceituoso também não te anula, o ser humano é preconceituoso, e isso não te dá o passe livre. Acho pésssimo quando falam, "ah mas os negros também são preconceituosos", tá, me conta uma novidade agora. É obvio que são, por pura imbecilidade, ignorância ou defesa, mas são, porque são humanos. Já chamei a atenção de muito negro preconceituoso.

Pensem por favor um pouco sobre o quanto é se achar superior por causa dos cabelos lisos, pensem se vocês se casariam com negros, japoneses, cadeirantes, gordinhos, ou com um sotaque diferente, o normal é não haver fronteiras, abrir a mente pra conhecer alguém que você tenha afinidade, amor, cumplicidade, e não se justificar com aquele preconceito politicamente correto dizendo "não faz meu tipo".

Se você se limita à um "tipo", classificando pessoas por elementos externos, isso é sim preconceito, e quer saber? Sem grandes grilos, somos imperfeitos, mas assuma e trabalhe isso dentro de você, pra não criar hipocrisia aguda, como estes acima, que se julgam livres de preconceitos mas fazem piadas boçais e logo em seguida vem dizer o que seria contundente.

No Brasil o preconceito tá na piada da mulher pelada e burra, do nordestino bêbado e malandro e em muitos outros biotipos, isso não é só piada.

Mesmo imperfeito este é meu convite de reflexão e evolução.

.Cidão.