quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"o que se leva da vida, é a vida que se leva"

Passei uns dias com minha mãe no hospital essa semana, ela fez uma cirurgia, mas já está bem, recebeu alta hoje, mas isso é história para outro post. Vim falar de como a experiencia de estar em um hospital pode transformar a vida de alguém.


Eu acho normal as pessoas reclamarem. Acho até que a indignação é o mais eficiente remédio para o comodismo. Eu reclamo horrores. Reclamo se alguém que cortar fila, se sou mal atendida, se ficam do lado esquerdo na escada do metro ou se meu namorado não atende o celular. Reclamo mesmo. E ok. 


Só que durante esses dias no hospital vivi experiencias e conheci pessoas que mudaram minha vida e o que eu penso a respeito dela. É claro que vocês devem estar pensando que vou falar aquele clichê que todo mundo fala, que reclamamos por pouco e que a vida é muito bonita e curta. E acertaram, vou falar isso mesmo. Mas antes de usar frases prontas vou contar duas histórias de pessoas que conheci no hospital.


A primeira é Dona Aurora e sua filha Andrea. Japonesinhas. Dona Aurora tem que fazer hemodialise 3 vezes por semana e na última ela passou mal e teve que ficar internada. Sua filha mais velha, Andrea, largou o emprego e se dedicou a acompanhar a mãe nas sessões de hemodialise. Convivi 4 dias com elas, e nunca, eu disse nunca, em nenhuma conversa comigo, com alguma enfermeira, com o médico, ou com qualquer pessoa daquele hospital, eu ouvi uma das duas reclamarem. De nada. E elas tb não tiveram problemas. Elas levam a vida com tanta leveza que o almoço delas nunca atrasava, a enfermeira pegava a veia da Dona Aurora de primeira, o médico sempre tinha boas notícias e foi assim. As duas no hospital passando férias, rindo e fazendo amigos. A Andrea fez até um cachecol para mim. "É que comprei esse tear aqui pra não ficar sem fazer nada enquanto ela faz hemodialise". E eu cantava pra Dona Aurora aquela samba "Se você fosse sincera ô ô ô Aurora" ela ria e dizia que eu canto bem, pra vocês verem como Dona Aurora vê o lado bom das coisas. Dona Aurora não quer receber o rim de nenhum dos três filhos, pq eles podem precisar um dia. Ela vai esperar o rim de alguém que já se foi e que poderá emprestar pra ela. É assim que ela fala, emprestar.


A segunda história é de Gilson. Dividimos a sala de espera da operação. Enquanto minhã mãe era operada, Gilson esperava alguma notícia da irmã dele. A irmã dele, uma mulher engraçada e cheia de saúde, de 40 anos, uma filha de 14 e outra de dois anos e meio, casada, teve dor de cabeça sexta feira. Só uma dor de cabeça. Ela levantou pra pegar um remédinho e desmaiou. Transferiram ela 3 vezes de hospital e estavam fazendo uma operação de urgencia nela. Ela teve um aneurisma e o médico disse que ela tinha poucas chances. E Gilson chorando me disse: "Olha Dona Thais, tá na mão de Deus, mas uma coisa eu te falo, eu amei muito essa minha irmã, é claro que a gente já brigou, que irmão briga, mas nós nunca demos as costas um para ou outro, e se ela se for eu vou criar as filhas delas, vou ajudar o marido dela e vou agradecer a Deus por ter colocado minha irmã na minha vida.Por isso que a gente não pode brigar com quem amamos, pq olha, dessa vida toda, se ela se for, a única coisa que ela vai levar vai ser o amor que tivemos por ela".


E é só isso. A gente pode reclamar da vida sim. Contanto que a gente agradeça mais do que reclame.

2 comentários:

[C] disse...

Emocionante!
A gente aprende todo dia e em cada experiência temos o livre arbítrio de permanecer como estamos, reclamar e espernear, ou realmente transcender e evoluir. Não deixar de reclamar, claro, mas falar mais alegrias que lamentos! :)

Agora cliquem no [C] alí em cima!

Mara disse...

Adorei Thá...