sexta-feira, 13 de julho de 2012

A Aventureira - do Metrô Vila Madalena à República



Amanda.
Amanda não era uma típica passageira. Amanda nunca andava de ônibus nem metrô. Sua mãe a levava para todos os lugares de carro e para o colégio ia de carona com a vizinha, que levava o insuportável Rafael. Amanda nunca tinha andado de ônibus, só daqueles de viagem em excursão da escola. E de metrô, apesar de morar perto, tinha andado somente uma vez, com seu padrinho Bruno, mas foi coisa rápida, da sua casa no Metrô Vila Madalena a dele no metro Clínicas. Nunca nem tinha feito baldeação.


Rafael vivia zuando Amanda, falando que ela era patricinha. Mas ela não se sentia assim e entendia a preocupação de seus pais, além de ser filha única Amanda tinha somente 15 anos, os pais dela a achavam muito nova pra andar sozinha, fora que os dois tinham carro, podiam leva-la para todos os lugares.


Uma sexta-feira de férias, dia lindo mas frio, Amanda acordou entediada. Férias de julho são chatas, sem viagens e nada para fazer. Entrou na internet e decidiu ter um dia de aventura. Ia, pela primeira vez andar sozinha pela rua, e de metrô.


Tomou um banho rápido, colocou uma calça jeans e uma blusa de frio preta, não queria parecer muito arrumada, com medo de ser roubada. Colocou seu all star, pegou seu fone de ouvido e já começou a pensar em uma mentirinha pra contar pra Flor, a moça que trabalhava na sua casa:


- E ai Flor, beleza?
- Beleza Amandinha, tá com fome?
- Não, não, já tomei aquela vitamina que você me levou.
- E você vai sair?
- Ah, acho que vou na casa do Rafael, jogar videogame.
- É vai lá sim, aproveito pra dar uma arrumada no seu quarto, se sua mãe ligar aviso que você tá lá.
- Beleza. Viu Flor, quanto custa uma passagem de metrô?
- Que nem de ônibus, R$3,00. Cada uma né, pra ir e voltar gasto R$6,00. Por isso tava falando pra sua mãe que é melhor ela me pagar separado o vale transporte que to gastando muito. Mas porque?
- Nada não, curiosidade. Tchau.
- Tchau Amandinha.


Amanda pensou em avisar Rafael que ia dar uma saidinha, que se alguém perguntasse por ela, pra ele "passar um pano", mas o Rafael era tão babaca que ou ia querer ir junto ou ia zuar ela pra sempre.


E lá foi Amanda, a pé até a estação Vila Madalena. Seu objetivo era ir até a estação Republica, Amanda queria visitar a Galeria do Rock, pela primeira vez, e sozinha.


Tinha o mapa na sua cabeça, teria que descer no Paraíso, daí fazia a tal da baldeação e ia da linha azul até a Sé e de lá sentido Barra Funda e pronto, descia na Republica, parecia fácil.


Ficou um pouco confusa, não sabia onde comprava o bilhete, onde colocava aquele negócio, pra que lado tinha que ir, mas fez cara de entendida, e foi meio que seguindo o fluxo. Percebeu que uma moça anunciava o nome da estação, e achou aquilo ótimo, assim podia disfarçar e tirar os olhos da plaquinha na parede do trem. Tudo tranquilo até o metrô Paraíso, lá foi um pouco mais confuso, pq tinha se esquecido de olhar na internet se devia ir sentindo Jabaquara ou Tucuruvi. Como tava mais cheio lá e Amanda ficou um pouco nervosa, não conseguiu ver o mapa enorme bem do seu lado, e resolveu perguntar pra alguém. Perdeu uns dois trens até achar alguém que lhe parecia confiável. Uma moça de mochila e óculos escuros.


- Oi, dá licença.
- Oi
- Viu, por acaso a senhora sabe como faço pra ir pra Sé?
- Que senhora menina, tenho quase sua idade. Então, é aqui mesmo nessa plataforma, sentido Tucuruvi. Ó, tá chegando.
- Ai, brigada.
- Magina


Nesse trem ela não tirou o olho do mapinha. Achou que podia decorar, e foi acompanhando cada estação que a moça falava no microfone do metrô. Estação Sé.


- Ai, é aqui.


E lá foi Amanda, decidida, era só achar o trem sentido Barra Funda e pronto, tava quase chegando. Amanda sempre ouviu falar que a estação Sé era uma loucura, mas até que achou organizada, apesar de ser bem mais cheia que as outras. Ficou um pouco encanada pq achou que um cara tava seguindo ela e se escondeu atras de um pilar, depois ficou com vergonha de ter se escondido. A moça desse trem não falava, que coisa estranha, mas deve ser horário de almoço dela, pensou. Ainda bem que ela tinha decorado, eram só três estações.


Na saída do metrô Amanda já sabia o que fazer, pra que lado ir e o quanto andar. Internet é tudo nessa vida.


Amanda achou fácil a galeria do rock. Parou na frente e seus olhos encheram de lágrimas. Finalmente ela iria conhecer a galeria, que sua mãe nunca quis te levar, e foi parar lá de metrô e sozinha. Seus pensamentos foram interrompidos pelo seu celular que gritava na bolsa:


- Alo?!
- Oi Amanda
- Que vc quer Rafael?
- A Flor interfonou aqui, falou que vc tinha dito que ia jogar videogame, falei que vc tava no banheiro, cê ta fazendo merda Amanda? Onde cê tá? E se ela ligar de novo?
(silencio)
- Heim Amanda? Onde cê tá? Amanda?
- Hoje é dia de Rock, bebê!




[t]

2 comentários:

[C] disse...

Quem nunca fez como a Amanda na vida, experimente! hehehehe
:)

Michele Sibille disse...

Hehehe...adorei o texto.
Só fiquei curiosa pra saber como seria a volta da Amanda pra casa.

beijos!