Ônibus - São Paulo - Sentido Bairro
Duas moças na casa dos 20 quase trinta entram no ônibus. Uma loira com cicatriz no rosto, outra morena gordinha. São atendentes de loja em shopping, é esse o nome? Tinham trabalhado no domingo, e talvez ontem e hoje. O cansaço não é discreto, ele denuncia, tá na cara!
Uma história confusa de um homem controlador que liga de 5 em 5 minutos para saber onde a loira estava, e ela responde em ar irônico. Elas mentiram, saíram antes do trabalho e foram em algum bar pra beber, afogar a angústia de trabalhar em uma pirâmide fechada sem poder ver a luz do dia, um abafado com gosto de ar condicionado, ar reciclado, ar já respirado.
Certamente foram xingar aquelas clientes mal educadas e grossas pelas costas, porque o manual diz que o cliente tem sempre razão, e tomaram sua pílula diária de tumor ao engulir e sorrir dizendo no gerúndio que iam estar resolvendo o problema.
Lembraram do controlador, a morena gordinha ligeira:
- me dá seu telefone aqui!
Ligaram na loja correndo com o celular rosa prateado e com um bichinho pendurado:
- Janiele, se alguém ligar aí, qualquer pessoa, perguntando da hora que a gente saiu diz que a gente saiu às 16 horas, tá? Beijo brigada tchau! - desligou sem nem ouvir uma palavra da Janiele.
O ônibus não parou de chacoalhar.
.Cidão.
Um comentário:
Busão, meu querido busão.
Nunca esquecerei o dia em que ouvi a Katilene dizendo que não ia mais reclamar com o Kleber sobre o comportamento da Rose. Afinal, não dá pra se agradar a "negros e troianos".
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