sábado, 23 de junho de 2012

A entendida do Metrô Santana - Itaim Bibi



A entendida de Santana

Juliana. Juliana era solteira, quase trinta anos, nunca teve um namoro que durasse tempo suficiente para apresentar pra família. Mas sabia de relacionamentos. Conhecia muitas histórias, que as amigas contavam. Sabia o que tinha que fazer para conquistar um bonitão, o que fazer em caso de traição, calcular a hora certa de dar um gelo naquele ficante. Mudou de emprego há uma semana, e agora está começando a conhecer novas histórias. 

E a cada novo papo ela tirava a prova de uma teoria sua.
Um dia, na volta do trabalho, ouviu a história de Carmen:
- A gente se conheceu em um aniversário de uma antiga amiga minha lá em Pinheiros. Ela era metida, quis comemorar em um bar chique de lá. Eu me concentrando na caipirinha pra conta não sair muito cara e esbarrei no moço sem querer. Todo educado, atencioso...
- Mas ele era rico? – a dúvida de Juliana era por que raios esse não virou marido.

- Ah, ele tinha dinheiro sim... Tinha um relógio de diamante, daqueles bem bonitos, brilhantes, sabe? Andava com motorista, um carrão preto, me levava em uns restaurantes chiques, pagava vinho e tudo.
- Nossa! Então ele era rico mesmo. E por que vocês não casaram?
- Ah, ele sumiu, né? Disse que o problema não era comigo, era com ele, que ele era complicado demais pra mim. Aquela coisa de sempre.

Juliana não entendia como alguém perde uma oportunidade dessas. Perguntou indignada:
- E por que é que você não engravidou dele?
Carmen se assustou um pouco com a pergunta, mas resolveu concordar com a nova colega, pra não parecer muito conservadora:
- Ah, sei lá... Eu era muito boba ainda naquela época.
Juliana acha um absurdo. E insiste:
- Mas quando você conheceu ele você já não tinha a sua filha mais velha?
- Tinha...

- Então! Um filho a mais, um a menos, que diferença fazia?
Coitada da Carmen ficou quieta. Não tinha mesmo argumentos para explicar o que deu errado com o moço rico. Mas Juliana ainda tinha a história de Larissa, a terceira colega, que entrou na conversa neste momento.
- É, eu não tive uma sorte dessas... O único cara rico que consegui ter alguma coisa era casado.
Um exemplo desses Juliana nunca tinha ouvido, mas entendia de traição. Decidiu ouvir em detalhes essa história, pra ver se sua teoria se confirmava mais uma vez.

- Sério? Como assim? Me conta isso direito.
- Ah, saímos algumas vezes, conheci na balada. Mas percebi que tinha alguma coisa estranha. Ele sempre pagava minha conta, me levava em uns lugares super chiques também, eu tava quase ficando apaixonada... Mas às vezes ele me atendia falando baixinho, sempre viajava no final de semana a trabalho, queria me ver só no meio da semana, comecei a desconfiar.
- Mas como você teve certeza que ele era casado?
- A mulher dele me ligou.

Juliana riu. Mais uma teoria sobre relacionamentos confirmada. E num misto de prazer e satisfação falou de boca cheia:
- Affe! Aposto que ele esqueceu de apagar alguma mensagem sua no celular, né? Como esses homens são burros! Por isso é que eu falo! Especialistas em traição mesmo são as mulheres... Homens não sabem trair direito.

Apertou o botão do sinal, despediu das amigas com um astral visualmente inabalável, pediu liceça para passar e desceu com um sorrisinho no rosto e um amargo imenso de inveja no coração solitário que não lhe servia nem para lhe trazer histórias próprias de decepção.


Um comentário:

Cristian disse...

É bom quando você está comendo bom ouvir música que é, talvez, concoida. Mas eu espero que você possa ver estes artistas ao comer em um restaurantes em itaim bibi e também para aproveitar a noite mais.