Já contei que divido a sala do trabalho com a T.I. né? Já estou até aprendendo a instalar coisas, desinstalar, compartilhar e formatar...enfim, um novo mundo se abriu.
A gente terceiriza um serviço. Uma empresa que se chama Netsis* vem aqui, e ajuda o Ricardo a instalar, programar, compartilhar e formatar tudo. Porque o coitado é só um e não dá conta sozinho. Sempre vem o Marcelo da Netsis* aqui. Sempre ele. Ai, ontem tocou meu telefone.
- Thais.
- Oi Thais, o Breno* da Netsis* ta aqui na portaria.
- Ta bom, manda entrar.
- Ricardo, tem um cara da Netsis* aí, mas não é o Marcelo, é um tal de Breno*. Mandei entrar. Conhece?
- Não. Ah, deve ser novo né?
- É.
Toc, toc, toc.
- Entra.
- Dá licença.
Foi ai que fiz a maior cara de tupperware (rs, adoro!) da minha vida. Não gente, eu não me apaixonei. Foi muito pior. Entrou uma criança na sala. Juro. Uma criança. Ta bom vai, um pré-adolescente. Ele era mais baixo que eu, loiro, com cabelo tigelinha, espinhas, daquelas bem de jovem mesmo, grande, na bochecha, com pontinha branca. Ele usava uma camisa social, calça social e sapato social. A camisa era verde bandeira, uns três números maior que ele, uma camisa de adulto em um corpinho de criança. Aquele corpinho em formação sabe? Um corpinho de quem era gordinho e está dando uma espichada, meio desengonçado. Ele ocupa mais espaço que o corpo, saca? Ele tropeça, bate nas coisas, derruba a caneta, abaixa pra pegar e deixa cair a folha. Ele veio de busão pra Cotia City e o motorista do ônibus tirou onda dele. Mandou ele descer uns 2 km antes da empresa. Tava suadinho nas costas e no bigode que ele ainda não tem.
Ele entrou e nos olhamos, um para a cara do outro. Não falamos nada, mas tenho certeza que pensávamos a mesma coisa.
Tem uma criança aqui!
Lá foi o Ricardo, muito educado.
- Oi Breno*, tudo bem? Eu sou o Ricardo. Você veio aqui pra me ajudar ta? Vou te explicar direitinho o que você tem que fazer. Se você quiser uma água, um café, fica a vontade. O banheiro é aqui, na primeira porta a esquerda viu?
Eu me controlei muito pra não ter um ataque de riso. Muito mesmo!
O dia foi passando e ele aqui, trabalhando e anotando tudo nos papelzinhos dele. Quieto. Só que os meninos aqui são terríveis né! Fazem piada o dia todo. No começo ele esboçava um sorrisinho tímido, daqueles de canto de boca. Conforme o dia foi passando o sorriso foi aumentando, mas mesmo assim nada de risadas ou gargalhadas, só sorrisos.
Uma hora ele saiu da sala. Foi ai que fizemos o comentário. Eu puxei o assunto, até porque já estava me coçando de vontade de comentar aquilo.
-Nossa gente. Vocês viram. É uma criança. Que cosia né? Que prodígio.
-Nossa, novo mesmo.
O dia foi passando, fui almoçar e quando voltei me contaram uma novidade.
-Perguntei pra ele. Tem 16 anos. Ta no segundo colegial. Acho que ele ganha mais que eu.
Vocês, vão me dizer:
-16? Ah, nem é tão novo assim. Eu com 16 já fumava, bebia e trepava.
Ok. Concordo. Percebi que ele nem é tão novo assim. As crianças começam a mexer cedo em computador, ele aprendeu rápido. Entendi. Mas ele tem 16 com cara de 12. Poxa, natural que eu me assuste. Fora que nem carteira assinada ele tem. Ainda não pode. Tudo bem, tudo bem. Acabo de perceber que to velha.
Tha!
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