Enquadro

Eu ia contar do aniversário que eu, o Cidão e mais um amigo fomos no sábado. Ia. Não vou mais. Agora vou contar do que aconteceu na saída da balada. Saímos do barzinho e entramos no carro do Pelézito. Ele e eu na frente e o Cidão no banco de trás. Saímos de onde o carro estava estacionado e descemos a Cardeal. Para quem conhece se localizar, ali na Cardeal, mais ou menos em frente as Lojas Pernambucanas, tava rolando uma blitz. Um carro por vez passando e o Seu Guarda enfiando o holofote na cara das pessoas dentro dos carros. Chegou nossa vez.

Seu Guarda: Boa noite.
Pelézito: Boa noite.
Seu Guarda: De quem é o carro?
Pelézito: Do meu pai.
Seu Guarda: Daonde vocês tão vindo?
Pelézito: De um aniversário, em um barzinho, na rua de trás.
Seu Guarda: Barzinho? E você bebeu?
Pelézito: Só uma cerveja.
Seu Guarda: E você tem carta?
Pelézito: Tenho.
Seu Guarda: E por que ta sem cinto? Pode encostar.
Thais: Puta merda...e os documentos. Tão ok?
Pelézito: Não.
Cidão: Fodeu.

Ai a gente encostou o carro né? O Pelézito desceu e o Seu Guarda já foi gritando: encostado no carro, mão na cabeça, vai, vai, os dois, e a senhora espera ali. A senhora era eu, e ali era na calçada. Fiquei eu lá em pé na calçada vendo meus dois amigos sendo “assediados” pelo Seu Guarda, gente, aquilo é quase um estupro. Revistaram tudo, os meninos e o carro. Graças a Deus somos pessoas honestas. Então o carro não era roubado, não tinha droga e nem arma pra canto nenhum. Me senti meio que um adolescente, sendo revistado na porta do cursinho, bêbado três horas da tarde. Só que eram três horas da manhã, e nós três temos mais de 20 anos.
O Seu Guarda mandou o Cidão esperar do meu lado e o Pelézito foi pra fila do bafômetro. Pela graça dos Deuses, esse enquadro aconteceu em um dia que ele realmente não bebeu quase nada.
Já que eu não tinha nada pra fazer, comecei a reparar nas outras pessoas que estavam ali paradas na blitz. Um moço parado por excesso de passageiros, 6 em um carro, e pensar em quantas vezes a gente já andou com excesso de passageiros. O dono do carro, judiação, com uma cara de triste, uma cara de que a multa era bem salgada, de que o carro era do pai, de que a mãe dele ia falar um bolão.
Nossa, dai teve o pior, 4 caras dentro de um carro. Saiu todo mundo, mão na cabeça, um dos antas foi revistado e enquanto o Seu Guarda estava revistando o amigo do cidadão ele tirou o celular do bolso e começou a ligar:

Seu Guarda: Ta ligando pra quem?
Anta: vgeurgb (não escutei, ele falou baixinho)
Seu Guarda: Desliga essa bosta!

Gente, não viaja né? No meio do enquadro ligar pra mamãe é pra deixar qualquer Seu Guarda puto né?
Voltando a nós, então, daí pedi pra Senhora Guarda se eu podia pegar um cigarro no carro, ela deixou, fumei o cigarro e começou a chover.

Thais: E ai Cidão, vamos ficar aqui na chuva?
Cidão: Sei lá. Onde a gente vai?
Thais: Vamos ali naquele toldo do lado da Senhora Guarda.

Daí a gente foi. Paramos do lado dela e quando ela nos olhou fizemos aquela cara de gatinho do Shrek molhado, ela disse:

Senhora Guarda: Podem esperar no carro.

Fomos pro carro e decidimos que o melhor a fazer era ligar pra um amigo nosso, que estava no aniversário com a gente, e avisar ele que se o carro fosse apreendido ele ia ter que vir buscar a gente. Ligamos, avisamos e o Pelézito voltou pro carro.

Thais: A gente vai embora?
Pelézito: Vamos.
Thais: Ah vá!
Cidão: Pegou alguma coisa?
Pelézito: Ah, nem sei, acho que não, mas assinei um papel lá.

Pelézito engata a ré do carro.
Thais: Coloca o cinto pelamor.


Tha!