domingo, 9 de dezembro de 2007

As balas no metrô

Nosso blog serve justamiente para hablar más todo aquilo que no conseguimos hablar...
Uma vez ou outra podemos abrir um espaço pra quem quiser hablar más...e não guardar sua indignação no pobre miocárdio ventrículo esquerdo. Esse Post de hoje quem escreveu foi Leila, trabalha junto comigo, fez 22 anos, estágiária também e uma indignação irritante que se encaixa aqui, fica então liberado...
Cidão.


Outro dia eu estava sentada no metrô a caminho do shopping, quando um acontecimento me chamou a atenção. Eu estava em um daqueles bancos laterais, na linha vermelha-leste, há 1 estação da Sé. Entrou então um daqueles garotinhos que vendem balas em um pacotinho de plástico juntamente com um cartãozinho colorido para se presentear alguém e um papel dizendo: "Vendo essas balas a R$ 1,00 para ajudar minha família que está passando necessidades. Obrigado! Deus abençoe!".

Quando eu era mais nova eu ficava muito sensibilizada ao ver crianças da minha idade tendo de vender balas no metrô ao invés de irem à escola ou brincar como eu, e sempre que podia comprava as balas pensando que eu as ajudaria a terem uma vida um pouco menos sofrida. Mas depois de um tempo descobri como as coisas realmente funcionam e que em quase sua totalidade essas crianças nem chegam a ver a cor do dinheiro que arrecadam. Apenas fazem suas vendas e entregam aos seus "patrões". Desde então tomei como conduta nunca mais comprar as balas e nem aceitar pegá-las enquanto são distribuídas.

Bom, quando o garotinho deste dia foi me entregar o pacotinho de balas eu recusei, mas ele não se importou e o colocou em cima de minha bolsa sem minha permissão. Não gostei da situação, mas não reclamei, apenas devolveria quando ele passasse recolhendo. Então o garoto foi entregar a bala para o moço do banco ao lado que já erguera sua mão como impedimento para que o garoto não o forçasse a aceitar bala. O moço falou mais alto "Eu não quero e não vou pegar", mas o menino colocou a bala no colo do homem mesmo assim. Muito bravo o homem colocou o pacote de balas no chão ao seu lado e o garoto muito revoltado disse: "Eu já vo pega a bala c...".
Todos no metrô observavam a situação com olhares de censura para o homem.

No momento em que o menino passou de volta recolhendo as balas uma mulher que estava em pé bem em frente a mim chamou o menino e perguntou quanto custava a bala. O menino informou o valor e a mulher pediu uma a ele, mas quando ele foi retirar um pacote de balas de sua sacola ela o interrompeu dizendo: "Não, eu quero aquela ali do chão!". O menino se contrapôs dizendo que a bala estava no chão e ele daria outra a ela, mas ela respondeu que não havia problema algum, pois ele estava vendendo, trabalhando e era isso que importava.

Achei a atitude da mulher deplorável, mas em seguida mudei minha opinião de deplorável para uma atitude simplesmente ignorante. No entanto, não precisei expressar isso a todos que olhavam em volta. Logo em seguida as portas do metrô se abriram na estação Sé e o garoto, a mulher, eu, e muitos outros passageiros descemos e vimos a seguinte cena: o garoto encontrou com outro da sua idade e ambos correram até um casal que estava escondido atrás de uma pilastra ao lado da escada rolante e entregaram todo o dinheiro que haviam conseguido a eles. O garoto que estava em meu vagão ainda deu pulos de alegria e disse: "Dez conto patrão!"

As pessoas que também viram a cena balançaram a cabeça em sinal de reprovação.
Agora me pergunto, será que a mulher que fez toda aquela cena no metrô continuou pensando ter ajudado o pobre garotinho?

Ultimamente o metrô tem feito anúncios nos trens durante as viagens com os dizeres: "Pedir esmolas e o comercio ambulante no metrô são práticas ilegais. Denuncie." Ainda assim muitas pessoas colaboram achando que estão de fato ajudando essas crianças. Acho que isso ocorre devido a uma mistura: a ignorância e a necessidade do brasileiro em ajudar o próximo, mas da maneira fácil, que não seja trabalhosa. Comprar as balas é mais fácil do que escolher políticos que não estejam entre as "maçãs podres" e do que cobrar deles as providências.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bem vinda Leila!
ótimo texto!
beijos!!!!

Leila disse...

Ah, obrigada pelas boas vindas Thais!
E que bom que gostou do texto!
Estou devendo mais um pro Cidão... é sobre uma cilada que passei no meu aniversário bem ao estilo do programa da Multishow que, não por acaso tem este nome.
Até mais!
Beijos!