Andava perdido pela festa com um resto de whisky no copo. Não conhecia aquelas pessoas e nem tinha vontade de conhece-las. Estava ali por um único motivo. E esse motivo estava dançando, e talvez nem se lembrava que ele estava ali, só para vê-la.
Ele tinha vontade de falar tantas coisas, de expor seu sentimento, de se declarar. Mas toda vez que ela chegava perto, ele emudecia, paralisava. Aquele cara cheio de idéias, opiniões e atitudes virava um panaca, um adolescente frustrado.
E ela sempre linda, sempre com um brilho nos olhos apavorante, um sorriso constrangedor e uma vontade de ser feliz que tirava o sono dele, todas as noites.
Acendeu mais um cigarro.
Aquela música incomodava.
Procurou ela só com os olhos. Ela não estava mais onde a tinha visto da última vez. Saiu andando por aquele lugar, aquela casa que ele nada conhecia, nem o dono. Entrou e saiu de salas e nada viu. A única coisa que procurava não estava por lado nenhum.
Sua garganta secou. Suas mãos suavam. Largou seu copo em algum lugar e soltou o nó da gravata. Sem perceber quase corria pela casa, olhares cruzavam, mas nunca o dela. Procurava aqueles olhos cor de mel, aqueles mesmos que o apavoravam e que pareciam ler seus pensamentos.
Nem percebeu quando parou em um jardim, enorme e talvez um pouco escuro. Sentiu que ela estava lá. Sabia. E decidiu procurá-la, até achar.
A viu perto de uma árvore. Conversava com outro homem. Ele ficou parado, olhando de longe, esgotado. Ela sorria e o homem dizia coisas bem perto de seus ouvidos.
O estomago dele embrulhou. Acendeu outro cigarro e resolveu observar até onde eles iriam com aquilo. Aquele homem a beijou. Beijou como ele mesmo nunca havia beijado-a. Existia desejo naquele beijo. Ele mesmo nunca conseguiria tratá-la assim, como o homem a tratava, sem pudor, sem respeito, como quem está ali querendo somente satisfazer sua libido com uma mulher bonita.
Os dois voltavam para festa e ele foi atrás, queria gritar, queria chorar, mas só segurou no braço dela. Ela olhou para ele e disse para aquele homem que ela resolveria um probleminha, e já voltaria pra festa.
Ele não conseguiu falar nada. E ela começou um longo discurso. Disse que não queria ser mais importunada por ele, que queria que ele a deixasse em paz, que queria seguir sua vida e ser feliz.
Ele continuou quieto, seus olhos marejavam.
Ela, com um gesto rápido puxou seu braço e já caminhava de volta para a festa. Ainda olhou para trás e como que por compaixão disse que sentia muito.
Ele sentiu seu coração pulsar forte e uma dor na nuca insuportável. Seguro-a novamente pelo braço e quando ela se preparava para recomeçar seu discurso ele começou a apertar seu pescoço. Não percebeu o que fazia e cada vez apertava mais. Ela tentava se soltar, lágrimas caiam dos seus olhos e ele nem enxergava. Incontrolavelmente continuava apertando cada vez com mais força. Os movimentos dela foram diminuindo até que cessaram. Ele soltou-a naquela grama úmida pelo sereno. Fechou seus olhos e a beijou. Se levantou, olhou para trás e disse que sentia muito.
Tha!
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