Ele chegou 20 minutos antes do combinado. Sentou naquele banco da praça, do lado direito, de frente para a mangueira. Arrancou uma flor do jardim. Pediu desculpas à plantinha.
Sentia uma gota escorrer por suas costas. Nunca entendeu porque suas mãos tremiam tanto quando estava ansioso.
Levantou. Andou até o meio da praça. Procuro avista-la. Nada.
Voltou para o banco. A bola encostou no seu pé. Devolveu para o menino.
Ficou com medo do cachorro. Grande ele - tomara que ele não venha aqui – pensou.
Ensaiou algumas frases prontas. Se achou idiota. Coçou a cabeça. Pensou em ir embora.
Foi comprar pipoca, mas não quis comer. Era só desculpa para andar um pouco, testar as pernas. Entregou sua pipoca para um menino que brincava com uma pipa amarela. O menino sorriu, um sorriso também amarelo.
Não foi boa idéia ter vindo mais cedo. Quando ela chegasse, já estaria suado.
Olhou pela quarta vez seguida no relógio. Ela estava cinco minutos atrasada. Tudo bem, mulheres sempre se atrasam.
Pesou que podia pedi-la logo em casamento, assim pulava essa parte do namoro, que às vezes só complica. Mas mudou de idéia. Achou que iria assusta-la.
E se cantasse uma música? Não, muito cafona.
Declamasse um poema? Não, não sabia nenhum de cor.
Mas o que falar?
Quinze minutos atrasada.
Por um lado é bom o atrasado, teria mais tempo pra pensar no que falar.
Talvez ser sincero seria uma boa. Contaria logo pra ela que se apaixonou de cara. Pelo olhar, pelo sorriso, pela forma como ela andava.
Trinta minutos atrasada.
Suas mãos suavam, começava a ficar preocupado. Será que acontecera alguma coisa? Será que ela não vem mais?
Resolveu esperar mais um pouco.
Tentou se distrair com alguma coisa. Olhou as crianças, os cachorros, os pais, as mães, as aves. Parecia que só ele tinha as pernas bambas. Avistou um casal de namorados. Sentiu-se mais seguro.
Uma hora de atraso.
Ela ia chegar a qualquer momento. Descabelada, ofegante, pedindo desculpas.
Comprou outra pipoca e um guaraná. Dessa vez comeu a pipoca.
Devia ter trazido um livro.
Quis ir na banca de jornal, no final da rua, mas ficou com medo de um possível desencontro.
A testa suava.
Começou a cantarolar uma música que cantava quando era criança. Uma que sua mãe o ensinou, cantava quando queria espantar o medo.
Nossa. Duas horas atrasada. Não vem mais. Será que aconteceu alguma coisa?
Melhor esperar, só mais um pouquinho.
Será que alguém ali percebeu que ele ficará o tempo todo sozinho? Talvez não, ninguém o notará.
Foi até o menino da pipa amarela e perguntou se ele queria mais pipoca. O menino não respondeu. Achou melhor não insistir.
Estalou os dedos.
Rezou uma Ave-Maria. Baixinho, com os olhos bem apertados. Ficou com medo que alguém percebesse.
Se ela chegasse, primeiro queria uma desculpa bem convincente. Mas depois logo falaria que teve muito medo que ela não viesse, e que estava muito feliz.
Ficou com ódio de ter comprado uma calça nova e cara. Devia ter vindo com aquela azul mesmo. Veste tão bem.
Abriu a carteira, olhou a foto da avó, com ele ainda bebê no colo. Ela, que sempre sabia de tudo, nunca contou a ele que um dia isso lhe aconteceria.
Esfregou os olho.
Teve vontade de chorar. Mas não chorou.
Levantou do banco.
Resolveu ir embora.
Já na rua, deu uma última olhada para o banco da praça. Não, ela não estava.
- Tomara que tenha sido atropelada. Vadia.
Tha!
2 comentários:
Ai q coisa não?hahahahahahahahahaha
Incrível! Senti o mesmo que ele...
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